Introdução :
Inicio de uma nova jornada - Nada é realmente por acaso.
Escrever nossa própria história pode ser difícil, mas pode ser de grande ajuda para alguém. Aceitar a imaturidade da adolescência, quando ocorre as paixões e acreditasse que seja amor, quando na verdade se esta carente e se tem um vazio na alma, o primeiro namorado pode ser visto como príncipe encantado, até o dia em que nosso pensamento é reprovado e a vida nos bate com a realidade. Então a maturidade chega com o primeiro filho que trouxe a contribuição mais valiosa para minha vida, que foi com a dor do abandono Que anos depois consegui perceber que tal dor na alma serviu como trampolim para eu ser a mulher que sou hoje, forte no momento em que requer ser forte, madura quando a vida exige maturidade. Sem ilusões no dia dia , pés firmes no chão e o desejo de ser a cada dia que passa um ser humano melhor do que o dia anterior.
Algumas tantas vezes achei que não ia conseguir vencer os acontecimentos mais delicados da minha vida. Mas em diversas ocasiões escutei uma voz dentro de mim que dizia : "Não desista. É muito difícil ser mãe. Não existe manual para cada filho deste mundo, o manual é o aprendizado que se obtém no dia dia convivendo com o filho." Agora eu sei que de fato, cada filho é único e cada um nos oferece a oportunidade de nos tornarmos melhores em todos os sentidos.
É no momento em que se vê o filho diante de nossos olhos, do lado de fora da barriga que compreendemos a dimensão e a força de Deus. No momento em que nossos olhos visualizam o corpo pequeno, frágil , nascido ,ocorre um sentimento muito forte de amor. A partir de então passamos a entender todas as falas de nossa mãe lá atrás, ocorre um movimento de energia da natureza, onde percebemos que agora seremos responsável por aquele ser miudinho, pequenino , nosso coração , nossas emoções, sentimentos afloram, pois em verdade nem conhecíamos direito. Então tudo que estiver vinculado a vida, ao amor, a coragem, nascer, morrer, em nossa vida cotidiana terá um valor especial. A vida nunca mais será a mesma.
Percebemos que a coragem aumenta ou provavelmente sempre esteve dentro de nós, mas agora com a maternidade disparou, e ai de quem se arriscar em tentar qualquer maldade para com o nosso filho (a).O sentimento de gratidão pega da nossa mão , e temos o sentimento de que Deus nos contrata para sermos uma espécie de mentora de seus filhos. E que existe mãe que se entrega a maternidade de alma aberta, disposta a aprender com a grande natureza Divina e a contribuir na jornada do seu filho da melhor forma possível. Sub entendo que a partir do nascimento estamos sempre aprendendo na prática a ser mãe.
E diante das nossas falhas veremos o quanto podemos melhorar a nossa postura interna e externa. Falhas acontecem, e isso nos ajuda muito. Não tem como ser uma mãe perfeita, mas uma mãe um pouco mais assertiva na forma de criar e gerenciar cada fase da vida.
Toda vez que uma mãe percebe que precisa fazer ajustes na educação do filho, tem de fazer sem medo. Isso vai desde aprender a dar limites, dizer não e explicar, dizer sim e explicar , ensinar gentilmente que nem todos os dias da vida dele (a) será bom demais ou ruim demais. Somos empurradas a lidar com o equilíbrio emocional, equilíbrio racional e espiritual.
A maternidade nos faz desenvolver a habilidade de preparar um ser humano para o mundo, que um dia também terá as mesmas emoções da maternidade e paternidade que nós sentimos.
Uma mãe certamente passara parte da vida se corrigindo , fazendo ajustes, mudando o comportamento para o bem de todos, afinal agora não se esta mais sozinho, existe um filho que irá nos observar, que de certa forma por intermédio do nosso exemplo irá mostrar ao mundo o que recebeu de nós desde a infância até a fase adulta.
A maternidade tem uma proposta no meu ponto de vista, que é fazer nós mulheres nos reorganizar sem culpa de se sentir cansada, sobrecarrega-
das ,indispostas muitas vezes , sem disposição mental para o que ocorre logo ali adiante, pois tudo muda, queira ou não, muda.
As preocupações aumentam, as responsabilidades , as angustias , o desejo de oferecer o melhor, alguns questionamentos dão abertura para estabelecer novos projetos para vida de mãe, de super mãe, de mãe especial.
Descobrimos então o que é o amor em sua pura essência, estar mãe é aprender que existe muito mais amor incondicional dentro de si do que um dia poderia se imaginar.
Quando uma mãe sofre com seu filho, todas demais mães conseguem entender o que aquela dor esta causando naquela determinada mãe.
Deixamos de pensar no que os outros pensam sobre nós e passamos a assumir nossa história. E nesta história existe alguém muito especial, que são os filhos ou o filho que Deus nos permitiu ter por algum tempo nesta existência.
Deus não desliga o seu monitor - Salvo por um exame .
Este espaço está repleto de vida, com memorias fortes que foi para mim, aceitação, aprendizado continuo e gratidão. Não sou a primeira mulher mãe a escrever sobre sua história de vida, mas quero desde então fazer parte do grupo de mães que consegue abrir o coração para o mundo e dizer: Ei, nossos filhos são presentes de Deus e temos muito a aprender com eles todos os dias. Não importa se o filho foi planejado ou não, ao nascer a natureza Divina esta entregando em nossos braços uma grande missão, e é sobre isso que devemos lembrar no dia dia .
Meu nome é Laura dos Santos Vieira, mas você pode me chamar de Laurinha, assim nossa conversa fica sem formalidade e a gente pode se sentir mais perto.
No final do dia 27 de março de 1995, quando eu fui fazer um ultrassom de rotina em uma clinica na cidade de Porto Alegre- RS, gestante de 6 meses, primeiro filho, separada por fatos da vida (fui traída e não aceitei a traição), estava passando por uma turbulência emocional muito grande, pois uma separação em meio a uma gravidez requer da gente que é mulher uma força extra, afinal já era visível que eu teria de abraçar a gravidez sozinha. Assim sendo neste dia após sair da consulta médica com uma requisição para fazer um ultrassom, ao chegar na clinica de ultrassonografia em torno das 17:40 minutos e deitar na maca de exames e o médico colocar o aparelho em minha barriga, percebia no semblante do médico que algo não estava indo bem . . . e eis que o médico então disse: - Preciso te dizer algo, e preciso que você mantenha-se positiva, sei que é seu primeiro filho, mas existe uma baixa do liquido amniótico (oligoidrâmnio) e você esta no 6º mês de gestação. Precisa ir para triagem em um hospital o mais rápido possível, pois o seu neném esta em sofrimento fetal, não consigo ver precisamente o que esta acontecendo, mas é preciso ir para o hospital.
Lembro que naquele instante o mundo parecia ter se partido ao meio , pois eu estava na casa de minha irmã para reiniciar a minha vida, ( que naquele momento estava no trabalho), e eu só tinha realmente ela naquele momento. Saindo da clinica com o exame em mãos, fui para a residência de minha irmã, e então me preparei para ir para o hospital e pedi para que ela fosse junto comigo. Talvez você se pergunte porque ainda fui em casa, mas naquela época não dispunha de celular para comunicar.
E assim ao contar para ela imediatamente nos dirigimos para o hospital Ernesto Dornelles na cidade de Porto Alegre- RS por volta das 19 horas da noite, onde fui atendida no setor de emergência aos cuidados do obstetra Drº Roberto Renck e a pediatra de plantão Simone Napoleão (impossível esquecer). Ao colocarem a cinta para verificar os batimentos cardíacos de meu neném era visível a preocupação do médico obstetra , pois dependendo da posição em que eu ficasse os batimentos do neném diminuía, e minha barriga se apresentava dura, ele não se movimentava. Então o médico conversou com minha irmã que aguardava na sala de espera, dizendo a ela o que também teve de dizer para mim, minutos antes de levarem a sala de cirurgia:
- O neném esta em sofrimento fetal, não sabemos porque, e ele tem mais chances de sobreviver fora da barriga e não tenho mais tempo a perder. A cesariana será de emergência, já estamos tentando arrumar a vaga na UTI NEONATAL e vamos manter a fé em Deus.
E assim olhando as horas passarem e um entra e sai de médicos e enfermeiros se dava ao inicio de uma cesariana de emergência ( por telefone chamavam o anestesista ) e eu ali pensando em Deus, no meu menino ,que não tinha um nome definido ainda, mas eu já sabia que era um menino , e se eu iria viver também . . . ás 00:38 minutos da madrugada do dia 28 de março de 1995, na cidade de Porto Alegre-RS nasceu então um prematurinho de 34 cm, pesando 2k.040 gramas( peso ótimo para um prematuro), que ao ser retirado da minha barriga fez eu sentir uma forte dor no meu umbigo. Então escutei da equipe médica as palavras:
- Meu Deus . . .
Olhei para o anestesista e então o anestesista que conseguia visualizar tudo que estava acontecendo, pois existia um lençol verde que impedia a minha visão, então disse:
-Nasceu seu menino, nasceu . . . não se preocupe a equipe médica já esta tratando dele, afinal ele esta chegando antes do tempo . . .( prematuros não choram. Disse o anestesista quando questionei porque não chorava . . .)
O anestesista observando a situação tentou me tranquilizar, mas o que acontecia naquele momento é que ele estava com o cordão umbilical totalmente enrolado ao pescoço e já estava com ausência de ar no cérebro ( ele foi reanimado e então entubado - 99% de ventilação mecânica e 1% ele quem respirava. O diagnostico a cada dia que passava era de piora, pois ele tinha tido hipertensão pulmonar, 3 paradas -cardíacas ( sendo reanimado ) e com 21 dias de UTI neonatal teve uma hemorragia que então agravou mais ainda seu quadro clinico. Fui naquele momento sedada, apaguei e acordei na sala de recuperação - CTI .
Eu fui levada para vê-lo na UTINEONATAL (Isolamento) após 36 horas de vida dele, pois eu não passei bem na primeira tentativa de ficar de pé , e ao obter o diagnostico do médico, passei mal . . . eu tinha 25 anos, primeiro filho, um parto de emergência e tudo que eu escutei foi :
-Nossa equipe médica fez e esta fazendo tudo que a medicina tem de melhor a ser feito para manter ele entre nós, mas vamos lembrar que entre todos nós existe uma ponte que nos interliga, e tem muita força. Um médico pode trazer um diagnóstico e Deus ter outro. Então mãezinha, não desanime e nem perca a sua fé, pois a sua fé fará toda diferença, disse-me a médica pediatra.
Posso dizer que tive uma grande equipe médica naquela noite e no decorrer dos 90 dias em que ele ficou na UTINEONATAL , médicos dedicados , enfermeiros totalmente preparados para situação.
Medicações cuidadosamente aplicada, como corticoide, assisti a raspagem da cabeça dele para colocarem agulhas para aplicarem medicações... depois a micro cirurgia para pegar a veia jugular externa para receber alimentação pastosa... tudo isso era de dilacerar o coração. Mesmo sabendo que todos os procedimentos tinham um porque, que era para sua recuperação.
A escolha do nome - O perdão do meu pai- Os momentos de sofrimento emocional.
Eu não tinha mais minha mãe viva quando fui mãe pela primeira vez, eu tinha como alicerce minha irmã ( apoiadora),e meu pai ( que morava em Pelotas-RS) e que ao saber do nascimento e circunstâncias em que nasceu o primeiro neto, tratou de ir conhecer o neto no hospital. Quase impedido de ver o neto na UTI, pois o neto se encontrava na área de isolamento, teve então um longo dialogo com os médicos alegando que tinha viajado mais de 3 horas para visitar o primeiro neto, e que eu me encontrava separada do pai do recém nascido . . .
e por fim o deixaram entrar na UTI, seguindo todos os protocolos ).
Lembro de meu pai ,abrindo a porta do quarto onde eu estava no hospital e olhando-me disse:
- Ele vai viver, eu senti que ele vai viver. (disse meu pai muito confiante).
Então ele complementou :
-A médica disse que estava aguardando o nome dele, pois quer colocar a identificação com o nome, na incubadora. Então escolhi o nome dele, e elas já colocaram , disse meu pai todo feliz. O nome dele será parecido com o meu, o meu é Riobal Emir Vieira e ele será Edemir Vieira. Percebi nos olhos do meu pai uma emoção muito forte, ter estado diante do neto foi um momento intenso, foi um divisor de águas, pois eu e meu pai ficamos um bom tempo sem conversar por conta da minha escolha em viver uma vida a dois com o pai do Edemir. Meu pai nunca escondeu que era contra o meu namoro com o pai do Edemir, pois ele era atleta de futebol e meu pai dizia abertamente: Este cara não presta.
Com o passar dos anos fui compreender que meu pai previa por intermédio da intuição que não ia ser um relacionamento com base sólida, que a história seria de dor e sofrimento. Um pai sendo pai, dizendo verdades e de contra partida eu achando que meu pai era meu inimigo, pois só visualizava negatividade. Se alguém contasse que ele estava a trair -me com certeza eu não iria acreditar na pessoa, e sim no que ele falasse, pois eu confesso que ele era calmo, tranquilo e não deixava transparecer absolutamente nada, nada mesmo. E eu nunca fui do tipo de mulher que ficava rondando para ver se descobriria alguma coisa errada, sempre confiei. Confiava demais, em curtas palavras, era uma mistura de ingenuidade com imaturidade. Ele não deixava rastros, e sempre me tratou bem no dia dia. Conheci ele aos 16 anos de idade, pense em uma adolescente apaixonada, era eu. Nos meus pensamentos não existia espaço para negatividade eu queria viver aquela paixão, eu acreditava que aquele sentimento era amor e que no caso era recíproco . Aos 18 anos sai de casa para morar junto com ele, tínhamos casa própria totalmente mobiliada, tudo novo , eu era bem organizada para idade. Porém experiência de vida zero, não pensava se algo desce errado o que eu iria fazer, como eu iria reagir, eu só pensava em ter uma família, em ser feliz. Meu sentimento era : Estou casada, sou a única da vida dele e meu nome será felicidade eterna . . . Só que não.
Meu pai ficou 3 anos sem falar comigo devido a minha decisão. Foi uma fase muito triste, verdadeiramente triste, pois minha mãe sofreu muito com a guerra que acabamos construindo devido a minha decisão. Neste período em que saí de casa para ir viver a dois, minha mãe adoeceu, e o diagnóstico era de um câncer no seio em estágio avançado - tumor maligno, nada poderia ser feito estava muito agressivo, alastrou-se por todo corpo. Nesta época eu morava com ele em outra cidade e para visitar a minha mãe, tinha que ser as escondidas, pois meu pai não queria me ver nem de pintada de ouro. Eu esperava meu pai sair para o trabalho e então batia na porta e minha mãe abria a porta com muita dificuldade, e assim eu conseguia visita-la, matar a saudade, abraça-la, fazer algumas coisas que ela precisava e no final da tarde eu ia para casa dos meus tios que ficava no lado
da casa dos meus pais, tudo as escondidas. Como a situação de minha mãe agravou-se, e eu não trabalhava , um dia minha irmã que não morava mais em casa também(morava em Porto Alegre -RS), disse ao meu pai ,que deveria aceitar que eu entrasse novamente no convívio da família, pois eu poderia ajudar a mãe que se encontrava doente, que ele pensasse na situação da mãe.
E assim ele permitiu que eu entrasse na casa, que em verdade eu já estava entrando as escondidas , pois a mãe precisava ter alguém para ajuda-la. Meu pai não falava comigo, não dava uma palavra, e eu por minha vez também não falava, pois era visível o ódio que ele sentia de me ver ali. Eu então preparava as refeições como janta e ele chegava a cheirar a comida e perguntava: - Colocou veneno aqui, pra eu morrer junto com tua mãe? Eu simplesmente engolia a seco o que escutava, pois ficar perto da minha mãe era muito importante para mim, eu não sabia quanto tempo de vida ela teria. Minha mãe era uma mulher guerreira, uma alma muito especial, de um coração gigantesco , minha vida, e meu sofrimento era profundo, tanto por meu pai não falar comigo, como saber que num curto espaço de tempo não teria mais minha mãe viva.
E por dois meses foi desta forma que ele me tratou, até que um dia minha mãe q chamou meu pai no quarto onde ela ficava deitada e chamou a mim também e disse: - Quero pedir uma única coisa para o teu pai e para ti Laurinha, façam as pazes agora para que eu possa morrer em paz. Volte a falar com a tua filha, isso não é certo. Se eu morrer peço que você nunca abandone -a, ela é tua filha.
Ele não disse nada , simplesmente saiu do quarto e eu segurando a mão de minha mãe chorei muito . . . meu pai não se curvou de imediato ao pedido de minha mãe, se manteve por mais de um mês da mesma forma seca , as vezes respondia com um sim ou não , quando eu fazia alguma pergunta referente a mãe. Pois eu passava o dia ali e a noite quando ele chegava do serviço eu ia para casa dos meus tios ao lado da casa deles.
Foi então que minha mãe precisou ir para o hospital por conta da anemia profunda ,foi preciso fazer transfusão de sangue e exames mais detalhados pois o câncer já estava nos ossos e no cérebro. Minha irmã por morar e trabalhar em Porto Alegre , se fazia presente nos finais de semana, minhas tias visitavam minha mãe, e eu enfrentava o desafio do olhar seco do meu pai.
É terrível ver quem a gente ama, ser devorada por uma doença maligna, que foi tirando os movimentos do seu corpo e jogou -a encima de uma cama, por 3 meses , minha mãe ficou por 3 meses encima de uma cama, sendo acompanhada por uma médica que ia na residência e prescrevia as medicações e orientava como deveríamos proceder. Pois recebemos a orientação que o melhor remédio diante daquela situação era dar o máximo de carinho e amor, até o seu último dia de vida entre nós, o amor é um balsamo.
Dias difíceis para todos nós , e para meu pai também , afinal meu pai também estava sendo preparado pela vida para dizer adeus a qualquer momento a sua esposa, companheira de jornada, da qual ele conviverá por mais de 30 anos, entre namoro, noivado e casamento.
O quadro de minha mãe foi se agravando, agravando, até que no dia 17 de março de 1991 por volta das 14:00 horas em casa seu coração parou, e o nosso ficou em pedacinhos. No dia 18 de março de 1991 (dia do meu aniversário- 21 anos) ás 10 horas da manhã, familiares, amigos, colegas de trabalho , esposo, filhas davam adeus no cemitério, a dona Eva, esposa, mãe, irmã, cunhada, amiga, que aos 58 anos de idade retornara ao mundo espiritual.
Ninguém sabia o que dizer para mim, pois estava de aniversário e enterrando a pessoa mais importante da minha vida, minha mãe.
Ao retornar para casa do meu pai após a saída do sepultamento para pegar meus pertences que lá estavam, meu pai então me chamou na cozinha e disse:
- Laurinha, aqui tem uma lembrança que eu comprei hoje quando sai do cemitério, é pra ti . A partir de hoje passamos uma borracha em tudo que aconteceu, e eu vou fazer o que a Eva pediu, estar em paz e não brigar mais.
Eu lamento que a Eva tenha falecido as vésperas do teu aniversário e sido enterrada no dia do teu aniversário, a gente sabe o quanto tu gostas do teu aniversário, então não deixa de comemorar. A vida é assim, ela nos traz surpresas que nem sempre são agradável. Então, é preciso reagir.
Naquele momento entrou- me uma pequeno pacote de presente e deu-me um abraço forte, muito forte.
E assim diante da dor da alma, diante do vazio que se instala quando temos de dizer adeus a quem a gente ama, um novo cenário se mostrou, entre pai e filha-entre filha e pai .
Quando alguém aprende pela dor a importância que a outra pessoa tinha na sua vida, tudo fica mais profundo, os sentimentos de amor e pertencimento da pessoa que lutava por isso, por paz , por harmonia , por amor incondicional.
Meu pai ao sair da missa de 7º dia de minha mãe, falou : - Não acredito que estou viúvo. Não acredito ainda que a Eva morreu.
Eu também não conseguia de certa maneira acreditar, do jeito tão rápido como foi, e que daquele momento em diante não teria mais aquele abraço carinhoso, aquele beijo suave e o carinho de mãe que todo filho independente da idade gosta de ganhar o tempo todo ou sempre que se esta junto.
Meu pai assumiu então o pedido que minha mãe fez antes de morrer, abriu as portas do seu coração para que eu entrasse. Mas entrasse sozinha, pois ele não queria ver a cara do meu até então marido.
Retornei a minha vida de casada após a missa de 7º dia de minha mãe, retornando para cidade onde eu morava, e assim por mais 3 anos dentro desta união, eu me comunicava por carta e cartões postais com o meu pai, que também se correspondia .
Após a morte de minha mãe eu sofri muito de saudade dela, foi algo surreal, com a ausência dela passei a entender que realmente quando nossa mãe faz a passagem para o plano espiritual um pedaço nosso parece que vai junto.
Quando eu me deparei com a gravidez o vazio começou a ser preenchido com a expectativa de ser mãe, os sentimentos ficam mais aflorados, a vida começa a ter um colorido e significado mais forte do que antes. É difícil tentar traduzir a maternidade , pois descobrimos detalhes da vida, passamos a conhecer melhor os planos do Criador (Deus ) ,e percebemos o quanto a vida é mágica.
O que eu aprendi com a rejeição do pai do meu filho?
Sou natural de Pelotas-RS , passei pela cesariana de emergência na capital gaúcha e com o convite de meu pai voltei para Pelotas com o Edemir após a alta hospitalar. Pois eu estava separada do pai do Edemir, conforme mencionei no inicio deste livro.
Quando passei por todo este período de hospital com o Edemir, o ex foi avisado, porém não fez nenhum esforço para vir conhecer o pequeno recém -nascido, e isso fez com que eu o marcasse como um olgoz - a mágoa foi profunda.
Quero aqui expor algo para algumas mulheres que talvez como eu um dia acreditou que em situações assim, o homem (o pai) irá aparecer e dizer:
- Estou aqui e conte comigo para o que der e viver. . .
Não se admire ou tão pouco se surpreenda se o pai recuar e negar ajuda e nunca aparecer, pois isso é possível. E isso é assustador, quando a gente vive com alguém e descobre que aquela pessoa não era nada daquilo que a gente estava vivendo. Que ela tem o lado avesso pronto a ser mostrado e para ela é natural abandonar um filho, quando o filho precisa tanto.
Eu tive um relacionamento de 7 anos com o pai do Edemir, entre namoro e união com casa montada, morando em algumas cidades fora do estado devido a atividade profissional dele na época. Não foi um flerte de fim de semana, onde a mulher encontra o cara numa festa sai e depois se depara com uma gravidez e então o homem dúvida até da paternidade. Ele foi o primeiro namorado, o primeiro homem do qual eu tive um relacionamento, frequentou a casa dos meus pais . . . e naquela época acreditei que era o par para vida toda, até o momento em que fui descobrindo suas mentiras e seu envolvimento com outras mulheres.
Quando a máscara cai , quando a imagem que se tem de alguém se descontrói pela atitude da própria pessoa, tudo que sobra é dor, dói a alma, dói muito ficar frente a frente da realidade.
Não poderia eu sabotar a verdade, não poderia eu passar panos quentes e lutar por um relacionamento onde existia traição. Por muitas vezes eu fiquei a pensar como uma pessoa consegue deitar ao lado da companheira e dizer boa noite tendo passado a tarde com outra mulher( a falsidade, a frieza) é surreal, mas acontece e aconteceu comigo .
Eu não tinha a maturidade espiritual que tenho hoje ( aos 52 anos), mas eu tinha discernimento diante da situação. Eu tinha como tenho até hoje sentimentos, e sentimentos são fáceis de ser destruído.
Ficava pensando nos momentos em que meu pai se mostrava contra o namoro, quando meu pai dizia que não ia dá certo, e eu pensava :
- Qual o problema? Vai dá certo sim. Eu vou ser feliz, sim.
Desde muito jovem meu sonho era ter um marido que fosse cumplice, parceiro, amigo , companheiro de jornada , paizão dos meus filhos . . . e eu não tive nada disso , tive doses fortes de tristeza, magoa , decepção , vergonha em saber que não poderia dizer ao meu filho : -Seu pai é um grande pai, lutou junto com você para você viver junto de nós todos.
Se alguém nos traí significa que não existe respeito, não existe amor, não existe caráter, existe é um vazio na alma que certamente não seremos nós a preencher. Pois quando um relacionamento possui respeito como base e uma das partes não deseja mais manter o relacionamento simplesmente que coloque um fim sem causar dores emocionais na outra parte. Esse é meu pensamento. Não creio em justificativas para alguém trair. Afinal ninguém é obrigado a amar ninguém, mas a respeitar sim. E aquilo que não queremos para nós, porque fazer para alguém.
Por isso eu digo aos adolescentes, primeiro trabalhe a sua independência em todos os aspectos e sentidos, não pense que a sua felicidade depende do outro, ou que o outro irá ficar ao seu lado na alegria e na tristeza, pois alguns seres humanos não ficam na tristeza e nem na dor e nem nos momentos mais delicados da vida. Cada ser humano é único, e cada ser humano pode apresentar -se de forma nunca imaginada. E quando somos adolescentes -jovens demais ,sem o mínimo de experiência da vida é importante escutar os mais velhos e experientes, o conselho da avó, da tia, da vizinha , do professor, de alguém que com toda certeza esta conseguindo ver a imaturidade pode te salvar de grandes sofrimentos. Então, antes de entrar na ação do querer construir uma vida a dois cedo demais, o jovem deve se preparar ao máximo para aguentar o tranco se algo der errado. Claro que cada caso é um caso, mas se estiver a sombra da paixão e cega de paixonite a probabilidade de quebrar a cara é imensa também.
Muito depois fui compreender a diferença de paixão e amor, de carência afetiva e ilusão. Quando se é jovem temos por um tempo a falsa ideia de que iremos controlar qualquer situação, e que se algo der errado a gente grita por socorro e o socorro aparece . . . mas, pode acontecer que o socorro não apareça, e o sofrimento então triplica,
e acabamos sendo convidados pela vida a amadurecer da pior forma, tendo de enfrentar a falta de respeito do ser humano. Consertar falta de caráter alheio é o mesmo que dar murro em ponta de faca, você vai se machucar um pouco mais a cada tentativa. E assim se aprende que o certo é o certo, o errado é o errado.
Um certo dia recebi um telefonema, era de de uma mulher que dizia ter um caso com o meu ex -marido , ela detalhava de forma fria , irônica e sem empatia alguma que estava com ele antes da minha gravidez e que ele não ficaria comigo mesmo com o nascimento do filho. Contou -me que ele mentia que estava treinando e na verdade estava com ela. Eu fiquei com a voz dela por meses na minha cabeça, parecia que existia um toca fitas que rodava o tempo todo com a conversa daquela mulher dentro da minha cabeça.
Eu queria entender como uma pessoa poderia fazer algo assim e por qual motivo destilava tanto veneno . . . então lembrava de meu pai quando dizia que ele não prestava e que não ia dá certo.
Percebi o quanto eu era ingênua , besta , pateta , que realmente confiei demasiadamente demais, em um ser que mentia descaradamente e que era sorrateiro. Do momento em que desliguei o telefone tive uma única certeza, nunca mais ver ele, toda distância seria pouco. É horrível ser traído , a gente que entender, um sentimento profundo de dor se instala dentro da alma da gente e tudo que se sente é uma vergonha sem tamanho , porque se confiou em alguém que realmente não prestava.
Mas eu sempre fui de ler e escutar muitas palestra sobre o comportamento do ser humano e sobre a vida espiritual. E graças a esta base de conhecimento a traição foi triturada e revertida em sentimento de coragem , força, fé, esperança de dias melhores e aprender a me valorizar. Eu tinha certeza que levasse o tempo que levasse um dia meu coração iria cicatrizar.
Então eu comecei a dizer aso mais próximos que iria criar meu filho dizendo a ele que ele não tinha pai, que o pai estava no céu. Algumas pessoas ficavam horrorizadas , meu pai nada disse e nem minha irmã, mas eu tive tias que achavam pesado demais não mencionar a existência dele ao meu filho conforme ele ia crescendo. Mas assim eu fiz, conforme meu filho crescia e até mesmo quando algumas pessoas perguntavam : - E o pai dele ? Eu respondia: - Morreu num acidente, eu sou viúva. Fiquei viúva na gravidez , não deu tempo se quer dele registrar , então registrei sozinha. E o assunto encerrava de imediato.
Mas a minha ex- sogra por muito tempo fez tentativas de aproximação , o que me deixava extremamente estressada, e muitas vezes nossos diálogos eram extremamente tensos, pois ela tinha medo que eu entrasse com um processo para que ele assumisse a paternidade . Algo que eu já tinha definido dentro de mim que não iria fazer para que ele não tivesse o direito de se fazer presente na vida do meu pequeno guerreiro( meu filho ).
Ao mesmo tempo eu conseguia compreender a minha ex -sogra, ela queria se fazer presente como avó, ela já tinha sofrido um tanto na vida também , pois também foi abandonada pelo marido, ela não tinha culpa do filho ter feito o que fez, e eu conseguia ter discernimento , ou seja separar um pouco a situação.
E com o passar dos anos em meio a conversas ela dizia sentir vergonha da atitude dele e em saber que ele não tinha feito nada pelo filho.
Passei a me colocar no lugar dela e então fiz um "acordo", ela poderia visitar o neto em datas especiais , como o dia do aniversário dele, e no mês de dezembro, se por acaso me visse na rua que fosse tudo muito breve. E assim por alguns anos ela o visitou e conseguiu ver o neto na sua fase de crescimento.
E o Edemir que era muito apegado ao meu pai, sabia que tinha uma avó que aparecia de vez em quando e tudo bem. Resumindo , ela respeitava a minha vida e eu a respeitava. Qualquer atitude contrária ao acordo ,eu não iria recebe-la mais, pois eu já tinha definido que o passado tinha que ficar para trás e que caberia a mim criar com todo carinho e amor meu filho sozinha. Mas não tão sozinha, pois meu pai, minha irmã, minhas tias e tios ,maternas e paternos torciam muito por mim e foram muito importantes nesta fase, a fase da reconstrução da minha vida.
Abandonar o passado, curar a tristeza profunda que se abriu dentro de mim, que pesava toneladas em certos momentos, e que para mim era surreal , ter vivido com alguém que não fez o mínimo de esforço para ir até o hospital conhecer o filho e ficar a par da situação da qual se encontrava ao nascer. Ainda que estivesse a quilômetros de distância (Salvador - Porto Alegre), se estivesse humano realmente daria um jeito.
Diante do abandono consegui perceber que ele não fazia falta realmente, e que de alguma forma eu tinha de trabalhar a coragem, o amor próprio, o amor de mãe e a sintonia da vida que nos empurra sempre à caminhar para frente.
A frase : - Vida que segue, era o slogan para o dia dia.
Mesmo com o coração dilacerado, destruído internamente, a minha consciência deixava bem nítido que tudo na vida realmente tem um porque, e que a gente é quem custa a entender.
Com o passar dos anos, toda vez que alguém falava da situação da qual o ex se encontrava, eu olhava para o céu e dizia: - Graças a Deus que eu não estou mais com ele . . . ou então eu pensava: - Meu Deus, imagina o que seria de mim neste momento . . .
Passei a ficar mais atenta aos sinais do Universo, que mostrava que eu e meu filho não tínhamos perdido nada por termos sido abandonados lá atrás.
Eu tive mesmo foi um livramento , e uma preciosa oportunidade de reconstruir a minha vida e de amadurecer internamente e externamente.
O ser humano de certa forma tem medo de não conseguir vencer situações das quais nunca imaginou ter de enfrentar, tem medo do medo, tem medos que a gente nem sabe que tem, e só descobre diante de situações assim, onde requer superação, reconstrução emocional, fortalecimento e amor a vida que Deus nos deu. Quem ama a vida de verdade não desiste de viver e tão pouco fica caído ao caminho, segue em passos firmes. Eu segui adiante , descobri um tanto de coisas a ser ativado dentro de mim, e perceber que existe uma reserva de energia dentro de nós todos que nos ajuda a não esmorecer.